O morango branco chileno

Description

Do tamanho e da cor de uma bola de pingue-pongue, a rara frutilla blanca cresce em apenas cerca de vinte jardins nas encostas íngremes e arborizadas da cordilheira de Nahuelbuta. Tem um sabor açucarado e um aroma a ananás que o torna completamente diferente dos morangos tradicionais. É também um ancestral dos morangos comuns cultivados em jardins.Os Mapuche, um povo indígena do Chile, foram os primeiros a cultivar essas bagas brancas pálidas, que eles chamam de kelleñ. Além de comê-los crus, os mapuches os secavam como passas, os utilizavam no preparo de chicha fermentada e os utilizavam como remédio tradicional. Além disso, plantaram os morangos brancos como armadilhas para emboscar os conquistadores espanhóis, que ficaram tão fascinados por eles que os transportaram para campos tão distantes quanto o Peru e a Colômbia.Em 1714, um agente secreto francês chamado Amedée François Frézier trouxe cinco morangos brancos para a Europa. Três décadas depois, na Bretanha, os agricultores cruzaram seus descendentes com o morango da Virgínia (Fragaria virginiana) do leste da América do Norte, resultando no morango de jardim (Fragaria × ananassa) que todos conhecemos hoje.Em uma cruel reviravolta do destino, o morango de jardim chegou ao Chile em 1830 e, ao longo das décadas, passou a dominar os campos locais, comprometendo o cultivo que ali prosperava há séculos.Hoje, o morango branco é encontrado apenas nas cidades chilenas de Contulmo e Purén, onde é uma iguaria rara que é vendida por 22.000 pesos chilenos (cerca de US$ 25) o quilo. Mesmo nessas duas cidades, os morangos brancos só podem ser adquiridos durante as curtas cinco semanas de colheita, entre dezembro e janeiro. Mas sua escassez merece uma celebração: durante a colheita, Contulmo e Purén organizam elaborados festivais culinários, usando os morangos brancos em bolos kuchen, conservas e um aperitivo tipo sangria chamado clery.A situação difícil de Frutilla blanca também produziu devotos defensores de sua sobrevivência. Jairo Carvajal, um jovem engenheiro agrônomo formado em Purén, vem de uma família de produtores de morango branco. “Precisamos conscientizar mais pessoas para que nossa tradição de cultivo não se perca”, explica ele sobre seus esforços para promover a fruta e experimentar técnicas inovadoras de cultivo. “Além de ser uma espécie nativa, também é algo muito importante para a conservação global”.Os amantes da frutilla blanca chilena esperam que um dia os morangos sigam um processo semelhante ao das maçãs de mercearia modernas, que passaram por uma longa fase dominada por algumas variedades ultravermelhas antes de uma variedade de alternativas e seus primos verdes e dourados ajudaria a diversificar o mercado. Carvajal ainda afirma que o sabor doce do morango branco é muito superior ao do morango vermelho. O resto do mundo, diz ele, realmente não sabe o que está perdendo.

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